IZA lança Afrodhit; confira nossa review do aguardadíssimo segundo álbum da cantora
Iza não só promete, ela entrega. Como uma Afrodite carioca em pleno 2023, a cantora é capaz de seduzir homens e deuses. Com 13 faixas inéditas, Afrodhit é autobiográfico, terapêutico, inovador, dançante, sexy, romântico, baladeiro, tudo-ao-mesmo-tempo-agora e surpreende a cada música, provando que a liberdade artística foi o melhor caminho que Iza poderia ter escolhido para o seu segundo álbum.
O poder da música preta
Com 1,5 milhão de fãs em seu canal na Deezer, Iza é um importante símbolo da valorização da cultura e da estética negras, além de representar a força feminina como poucas divas da música contemporânea.
Não por acaso, ela costuma ser comparada com Beyoncé, sobretudo depois de Afrodhit. Não só pelo estilo, pela beleza e pelas letras impactantes do álbum, mas também pelas expectativas criadas em torno de prêmios internacionais que podem surgir, como o Grammy. “A Beyoncé é minha maior referência, mas eu não pensei em Lemonade pra fazer o álbum, apenas falei da minha vida”, disse em entrevista à Folha.
Recentemente, a cantora atravessou uma reviravolta em sua vida pessoal, com uma separação. O caminho do álbum refletiu essa mudança. Em fevereiro, Iza jogou fora todas as músicas que já estavam prontas e recomeçou do zero. Não era só uma questão de qualidade: a artista não se enxergava mais no material. A nova versão mostrou mais sua voz – literalmente. “Essa areia na voz é minha marca e eu não usava 100% da minha voz grave porque era podada”, disse em entrevista ao programa Fantástico. E essa potência deixou tudo mais intenso, sedutor e dançante.
Sobre o processo criativo, Iza contou que já sabia que queria fazer um álbum de afrobeat. “Aí comecei a pensar que afrobeat nada mais é que música preta. Então reuni tudo o que eu gosto de música preta”. Daí a combinação criativa de brasilidades, funk carioca, reggae, pagode baiano, rap e r&b. Com tudo pensado em detalhes, a história de Afrodhit lembra seu momento de vida, explicou à Folha: “o álbum começa tenso e aí vem uma batucada, a gente vai pra pista, rola um flerte e me apaixono de novo”.
A potência das mulheres – e das redes
Um detalhe importante é que, nesse projeto, Iza está rodeada de mulheres. Não só nos arranjos e elementos técnicos, como também na composição – a cantora King Saints, coautora de hits superdançantes de outras artistas como Luísa Sonza, Preta Gil e Alcione, participou da composição de 11 das 13 faixas. Além disso, a artista divide o microfone com Iza em um feat na canção “Boombasstic”. Inspirada no sucesso de “Shaggy”, um dos hits mais conhecidos do hip hop dos anos 2000, essa versão brazuca tem cara e ritmo do viaduto de Madureira e vem pronta para embalar os bailes charm dos subúrbios cariocas.
Essa faixa, aliás, mostra como a cantora – que tem mais de 17 milhões de seguidores no Instagram – conhece o poder das redes sociais. Seus seguidores já andam comentando que não vai faltar dancinha. E não falta mesmo, para nenhuma das canções do disco.
“Fiu Fiu”, por exemplo, em feat com L7nnon, já está rendendo. A letra “Marquinha de fita afiada, Eu reparo detalhe, Tua pele preta, pouca roupa, Nós depois do baile, Bonezinho na cara, Dois suporte, corte na navalha, Postura não é amarra, Ela fala que eu não valho nada, eu, né?” é um convite para as melhores performances dos fãs, que a própria cantora compartilha em seus Stories.
Outro afro-hit é “Fé nas Maluca”, um r&b com batida de funk carioca gravado em feat com Mc Carol. O clipe, com ares de megaprodução e dirigido por Felipe Sassi (também responsável pelo hino “Cheguei”, de Ludmilla), foi a forma encontrada por Iza para começar a contar visualmente a história do álbum. Funcionou: foram mais de 1,6 milhão de visualizações no YouTube em menos de um mês.
O filme traz uma Afrodite capaz de materializar pedras preciosas que é encontrada em um garimpo. O roteiro é levemente inspirado em clássicos do cinema, como “Cocoon” e “Splash: Uma Sereia em Minha Vida”. Para dar uma estética de cinema brasileiro, “Bacurau” também entrou no balaio de inspirações. O clipe mostra uma mulher mística, explorada pelo seu valor, que um belo dia resolve se libertar e mostrar seu poder. Qualquer semelhança com uma mulher se libertando de um relacionamento tóxico não é mera coincidência.
A força das parcerias
Outro destaque de Afrodhit é o mix inusitado de parcerias. Com Arthur Verocai, maestro por trás de arranjos de Ivan Lins, Elis Regina e Jorge Ben nos anos 1960 e que voltou à fama no cenário rapper atual, Iza canta o desabafo “Nunca Mais”, que fala sobre paixões que nascem e morrem com o máximo de intensidade… e de efemeridade. A letra feroz, que diz “Anel no dedo, dedo no block, Quem cê quer enganar? Ou é pra vida toda ou é pra nunca mais”, vem acompanhada de um sofisticado arranjo de cordas do maestro.
Em feat com a musa nigeriana Tiwa Savage, “Bomzão” é um afrobeat com toques de kizomba e zouk para cantar de olhos fechados e esperar para dançar nas pistas das melhores baladas. Na história de Iza, a letra dessa música representa o momento da virada e a reabertura para viver uma paixão: “Como é que diz saudade na tua língua? Lembro da tua encostando na minha. Sentir seu corpo já é minha rotina preferida”. Com o rapper Djonga, a parceria dá vida à melódica e romântica “Sintoniza”, perfeita para ouvir no repeat.
Do amor pra balada, “Mega da Virada” é puro suco de Bahia. A música tem vibe de reggae com batucada de pagodão e letra poderosa, em um feat com Russo Passapusso, da banda BaianaSystem.
Forte e carregada de simbologias, a letra de “Terê” começa lembrando um bom samba das antigas com pitadas de samba rock e rap. “Orgulho ferido, um jeito sofrido. Batuca a tristeza na mesa de um bar. É dia de festa, festeja a desgraça. Promove arruaça e quer se vingar”. O refrão “porra, Teresa, assim tu vai ser presa” é um convite para os DJs darem aquela paradinha que faz a pista inteira cantar em coro.
Por falar em balada, “Batucada” fala que a noite só começou fazendo tudo tremer. Com beat gostoso e uma harmonia rica em instrumentos, “tem legenda pro insta pro ano inteiro”, como brincou um fã em comentário no YouTube.
Para encerrar o álbum, uma pitada de romance. Com todo o jeito de trilha sonora de novela ou seriado, “Uma Vida é Pouco Pra te Amar” celebra a atual fase de Iza. Ela canta “uma vida, nossos sonhos. Um mundo pra conquistar. Bora pra qualquer lugar, amor” deixando bem claro para o público o que tem falado com frequência em suas entrevistas: “Eu decidi que eu não trabalho pra ninguém, eu trabalho pra mim”. Ainda bem.
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