Belchior: vida, música e legado na MPB

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Belchior foi um grande cantor e compositor cearense, famoso por canções como “Alucinação”, “Sujeito de Sorte” e a música “Como Nossos Pais”, que ficou muito conhecida pela icônica versão na voz de Elis Regina. 

Com um visual memorável, letras marcantes e voz única, Belchior foi muito mais que “apenas um rapaz latino-americano”, ele marcou a história da MPB e suas músicas nunca saem de moda. 

Quem foi Belchior? 

Antônio Carlos Belchior, mais conhecido somente como Belchior, foi um cantor, compositor, músico, produtor, artista plástico e um dos maiores nomes da Música Popular Brasileira. Ele foi um dos membros do “Pessoal do Ceará”, um grupo de músicos do estado que, além do próprio Belchior, incluía nomes como Fagner, Ednardo, Rodger Rogério e Fausto Nilo.

Infância e início de carreira

Durante a infância, Belchior estudou música, canto para coral e piano e sua mãe, Dolores, cantava na igreja que a família frequentava. Após se formar na escola, Belchior optou por vivenciar um período de disciplina religiosa. 

Ele viveu em uma comunidade com frades italianos no mosteiro Guaramiranga, onde aprimorou seus conhecimentos em latim, italiano e canto gregoriano. Depois disso, voltou para Fortaleza, onde estudou medicina, mas abandonou o curso no quarto ano, em 1971, para dedicar-se a sua carreira artística. 

Momentos marcantes

Foi quando se ligou aos músicos do Pessoal do Ceará e se mudou para o Rio de Janeiro, onde venceu o IV Festival Universitário da MPB com a incrível canção “Na Hora do Almoço”.

Em 1974, ele lançou o seu primeiro álbum autointitulado, mas, apesar das suas canções já serem executadas por grandes artistas, como Elis Regina, ele ainda não conseguiu o reconhecimento nacional do mainstream. No mesmo ano, ele participa do programa Ensaio da TV Cultura. Veja Belchior falando sobre sua história e cantando neste belíssimo vídeo: 

Foi em 1976, com o lançamento do seu segundo álbum Alucinação, que ele conseguiu quebrar essa barreira e tornar a sua voz e a sua música conhecida em todo o Brasil. É desse álbum que nascem vários clássicos da carreira do cantor, como “Velha Roupa Colorida”, “Como Nossos Pais” e “Apenas Um Rapaz Latino Americano”.

Após muitos anos de sucesso na estrada, em 30 de abril de 2017, Belchior faleceu vítima da ruptura de um aneurisma, aos 70 anos de idade. Belchior pode ter nos deixado, mas suas canções serão para sempre eternas e ele permanecerá um ícone da cultura latino-americana.

Curiosidades

Uma vez, Belchior, em uma entrevista, adicionou os sobrenomes dos seus pais ao seu. Disse que se chamava “Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes”.

Tratava-se, é claro, somente de uma brincadeira para que ele pudesse se intitular “o maior nome de toda a MPB”. Convenhamos, não precisava dessa brincadeira, né? Afinal, até hoje ele continua sendo um dos maiores nomes da MPB.  

Discografia de Belchior

Agora que você conhece mais sobre a história de Belchior e algumas curiosidades sobre a carreira dele, veja a seguir a discografia completa. A obra dele é tão vasta e ricam, que fomos obrigados a falara um pouco sobre cada álbum. No total, são 14 discos de estúdio.

Mulher ouvindo Belchior

Belchior (1974)

Esse aqui é o primeiro disco dele, meio que a porta de entrada pro universo belchioriano. Dá pra sentir que ele tava começando a mostrar a que veio, com aquela voz forte e as letras cheias de questionamentos. Um cara já prometendo muito!

Alucinação (1976)

Ah, esse é o disco! É o clássico do Belchior, onde ele manda aquelas músicas que a gente ouve e parece que foram escritas ontem, tipo “Apenas um Rapaz Latino-Americano”. É ele na fase mais ácida e crítica, o auge da poesia dele.

Coração Selvagem (1977)

Aqui ele mantém a pegada de contestação, mas já com uma pegada mais romântica e introspectiva também. Tem “Coração Selvagem” que é uma pancada, e outras que deixam aquele gostinho de rebeldia misturada com amor.

Todos os Sentidos (1978)

Esse aqui é um pouco mais experimental, sabe? Ele tava explorando novas sonoridades, mas sem perder o estilo característico. O disco vai fundo nas emoções, com músicas que falam de amor, dor e um monte de sentimento embolado.

Era uma vez um Homem e Seu Tempo (1979)

Esse disco é tipo um manifesto, ele falando de um cara lidando com o tempo, a sociedade e as mudanças do mundo. Tem uma pegada mais pesada nas letras, bem filosófico e crítico. Dá pra sentir o peso das questões que ele tava carregando.

Objeto Direto (1980)

Aqui o Belchior pega um pouco mais leve. O som é mais pop, mais direto, mas as letras ainda têm aquela provocação e crítica social que só ele sabia fazer. É como se ele quisesse que mais gente ouvisse, mas sem perder a essência.

Paraíso (1982)

Esse é mais solar, com músicas mais alegres e positivas, mas ainda tem aquela ironia escondida. Parece que ele tava refletindo sobre um lugar melhor, talvez um “paraíso” pessoal. É bom de ouvir quando você quer algo mais leve do Belchior.

Cenas do Próximo Capítulo (1984)

Aqui ele já tá meio que voltando pra aquele tom mais reflexivo, só que com uma maturidade maior. É tipo um Belchior mais velho e sábio, olhando pra vida e pros dramas como quem já passou por tudo. Tem umas sacadas boas nesse disco.

Melodrama (1987)

Esse é um disco meio teatral, com ele brincando com essa ideia de “melodrama”, sabe? As letras são intensas, meio dramáticas mesmo, mas sempre com aquele toque filosófico que só ele tinha. Ele tava explorando outras formas de contar suas histórias.

Elogio da Loucura (1988)

Inspirado pelo livro do Erasmo de Roterdã, esse é um disco mais denso, filosófico até o talo. Ele tava questionando a sanidade da sociedade, da vida moderna, e isso aparece forte nas letras. É o Belchior em modo profundo.

Divina Comédia Humana (1991)

Aqui, ele meio que segue a linha de “Elogio da Loucura”, só que ainda mais pesado e complexo. Tem muita referência literária, como o título já entrega. É tipo ele navegando pelas grandes questões da existência e da humanidade.

Baihuno (1993)

Esse disco é mais raro de ouvir por aí, mas é cheio de músicas com uma pegada regional e, ao mesmo tempo, urbana. Ele tava misturando tudo: baião, rock, MPB. Um som bem rico, mas que não fez tanto sucesso na época.

Vicio Elegante (1996)

Aqui ele tava falando mais sobre os vícios da vida moderna, de forma bem poética, claro. É como se ele estivesse olhando o mundo com aquele olhar crítico, mas com um toque de sofisticação nas letras e arranjos. Meio subestimado, na real.

Autorretrato (1999)

Esse é tipo o fechamento do ciclo, sabe? Ele faz um apanhado da vida e da carreira, meio que se olhando no espelho e contando o que aprendeu. Um disco mais intimista, que fecha a trajetória dele de forma bem pessoal e madura.

Principais canções de Belchior

Quais são as músicas mais famosas de Belchior? É o que responderemos agora! São 7 sucessos incontestáveis que você precisa conhecer. Dá uma olhada:

Sujeito de Sorte 

“Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro”. Essa frase icônica vem da música “Sujeito de Sorte”. Apesar de não ser uma das canções que mais chamaram a atenção no disco Alucinação na época do seu lançamento, é uma das mais adoradas pelos fãs até hoje. 

Um dos fãs incondicionais dessa música é ninguém mais, ninguém menos do que o Emicida, que gostava tanto da faixa que a sampleou para compor a música “AmarElo”, do álbum homônimo de 2019. 

Emicida conseguiu captar a mensagem original da música e ressignificá-la, dando um novo contexto, e ainda contou com as participações de Pabllo Vittar e Majur:

Como Nossos Pais

“Como Nossos Pais”, por sua vez, é uma das canções de Belchior que ficou mais marcada no imaginário das pessoas com a voz de outro artista, no caso, Elis Regina.

De qualquer forma, a faixa é triste e fala sobre como, apesar da juventude sempre busca por renovação e muitas vezes conseguir implementar mudanças, ela acaba seguindo caminhos muito parecidos com os das gerações anteriores. Basta lembrar da letra, que diz:

“Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais”

Velha Roupa Colorida 

“Velha Roupa Colorida” é outra faixa do Belchior que foi gravada pela Elis Regina no disco Falso Brilhante. Também é uma canção que fala sobre a ação do tempo, transformações sobre o mundo e sobre nós mesmos e como a inovação com a  juventude é importante:

“No presente, a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais”

A versão da Elis Regina é toda elétrica, com um ritmo rápido, contagiante e bem rock and roll. Já a versão do Belchior é bem mais lenta e contemplativa. Vale muito a pena ouvir as duas versões!

Comentário a respeito de John 

Em “Comentário a respeito de John”, por outro lado, Belchior traz uma canção em que faz referência a John Lennon e os The Beatles na canção “Happiness is a Warm Gun”, lançada no White Album, de 1968.

“John, eu não esqueço
Oh no, oh no, oh no
A felicidade é uma arma quente
John, eu não esqueço
Oh no, oh no, oh no
A felicidade é uma arma quente
Quente, quente”

Alucinação 

O álbum Alucinação é, com certeza, um dos mais memoráveis de toda a carreira de Belchior e o preferido de muitos fãs. A música que dá nome ao álbum também é um dos grandes clássicos do artista.

Sabe aquela música que você ouve prestando atenção na letra e, a cada vez que dá o play novamente, percebe uma frase mais potente que a outra? Essa música é assim, olha só um trechinho:

“Eu não estou interessado em nenhuma teoria
Nem nessas coisas do oriente, romances astrais
A minha alucinação é suportar o dia a dia
E meu delírio é a experiência com coisas reais”

E é nesta canção que temos a máxima “Amar e mudar as coisas, me interessa mais”!

Fotografia 3×4

Já em “Fotografia 3×4” Belchior traz uma reflexão sobre como é ser um nordestino indo morar no sudeste. Confira a letra:

“Em cada esquina que eu passava, um guarda me parava
Pedia os meus documentos e depois sorria
Examinando o três-por-quatro da fotografia
E estranhando o nome do lugar de onde eu vinha
Pois o que pesa no norte, pela lei da gravidade
Disso Newton já sabia, cai no sul grande cidade
São Paulo violento, corre o rio que me engana
Copacabana, Zona Norte
E os cabarés da Lapa onde eu morei”

Apenas Um Rapaz Latino Americano 

A música “Apenas Um Rapaz Latino Americano” é uma das mais famosas de Belchior. Ela foi lançada durante a ditadura civil-militar e revela bem o sentimento do período. 

Por conta da censura, grandes artistas da época, como Belchior e tantos outros da MPB, não tinham voz ativa para expressar o que realmente pensavam. Nesse contexto, eles eram apenas rapazes latino-americanos, de mãos atadas. Nesse trecho abaixo dá para entender melhor ainda a intenção dessa canção:

“Eu sou apenas um rapaz latino-americano
Sem dinheiro no banco sem parentes importantes
E vindo do interior
(…)
Não me peça que eu lhe faça uma canção como se deve
Correta, branca, suave, muito limpa, muito leve
Sons, palavras, são navalhas
E eu não posso cantar como convém
Sem querer ferir ninguém”

Artistas que regravaram Belchior 

Olha só, as músicas do Belchior são tão atemporais e poderosas que não param de ser revisitadas por grandes artistas. Desde o início da carreira dele, tem gente regravando suas canções, de Elis Regina a Emicida, e isso só mostra a força do que ele criou. E é massa ver que a obra dele transita por diferentes estilos e gerações. 

Veja outros artistas que regravaram Belchior: 

  • Amelinha: Amiga próxima de Belchior, regravou clássicos como “Galos, Noites e Quintais”, trazendo uma interpretação forte e autêntica.
  • Humberto Gessinger: O vocalista dos Engenheiros do Hawaii revisitou “Alucinação”, trazendo sua personalidade do rock gaúcho à obra de Belchior.
  • Erasmo Carlos: O ícone da Jovem Guarda gravou uma emocionante versão de “Paralelas”, mantendo viva a essência do compositor cearense.
  • Vanessa da Mata e João Gomes: Fizeram uma nova versão de Comentário a Respeito de John, misturando elementos contemporâneos e regionais, atualizando a canção de forma impactante.
  • Ana Cañas: No álbum Ana Cañas Canta Belchior, trouxe releituras de várias faixas, como “Coração Selvagem” com uma pegada mais intimista.
  • Paulo Netto: Lançou um álbum tributo a Belchior, com regravações de sucessos como “Medo de Avião” e “Como Nossos Pais”, mantendo viva a obra para as novas gerações.

Playlists com Belchior  

E agora que você viu a grandiosidade da obra de Belchior e toda sua contribuição para a música brasileira, é hora de salvar as indicações de playlists com as melhores músicas do cantor e de outros grandes artistas nacionais. Vamos lá?

100% Belchior

Na playlist 100% Belchior, você encontra as melhores músicas de toda a trajetória de Belchior, como os clássicos hits do álbum Alucinação e de grandes álbuns de sua discografia. Simplesmente o melhor de todos os tempos do cantor e compositor que amamos tanto.

Anos 70 no Brasil

Enquanto o rock’n’roll, funk e disco bombavam no cenário internacional, o Brasil fervilhava em talentos da MPB, lançando a carreira de grandes nomes como Gal Costa, Jorge Ben Jor, Djavan, Elis Regina, Erasmo Carlos, Gilberto Gil, Clara Nunes e, é claro, o dono do bigode mais famoso da MPB, Belchior. Ouça agora a playlist Anos 70 no Brasil!

Então, depois de conhecer mais sobre a vida, a carreira e o legado do Belchior, dá pra perceber que ele não foi só mais um cantor, né? O cara revolucionou a MPB com suas letras profundas, aquela voz inconfundível e um jeito único de ver o mundo. 

Suas músicas, mesmo depois de tanto tempo, continuam falando com a gente, como se fossem escritas hoje. É incrível como ele conseguiu se manter tão atual e relevante. No fim das contas, Belchior vai ser sempre lembrado como um dos grandes da nossa música e cultura.

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