Se você é fã de rap e da cultura brasileira, provavelmente já sabe do seu impacto como música de protesto. Esse gênero vai além das rimas e batidas, é um grito de resistência e uma ferramenta poderosa de conscientização social. Vamos explorar juntos algumas das músicas do rap brasileiro que marcaram história com suas mensagens de protesto e conhecer um pouco mais sobre os artistas por trás dessas canções. Bora!
“Diário de um Detento” – Racionais MC’s
Quando falamos de rap no Brasil, o nome Racionais MC’s já vem à tona. Fundado em 1988 por Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay, o grupo se tornou uma voz potente, da periferia para as mídias, abordando questões como racismo, violência policial e desigualdade social.
“Diário de um Detento”, lançada no álbum “Sobrevivendo no Inferno” (1997), é uma das músicas mais icônicas do grupo. A letra, baseada na vida e no livro de Jocenir, preso no Carandiru, narra a dura realidade do sistema prisional brasileiro e a brutalidade da violência policial.
“São Paulo, dia primeiro de outubro de 1992, oito horas da manhã
Aqui estou, mais um dia
Sob o olhar sanguinário do vigia
Você não sabe como é caminhar com a cabeça na mira de uma HK”
“Boa Esperança” – Emicida
Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido como Emicida, é um dos nomes mais importantes do rap contemporâneo. Com um estilo que mistura rap, samba e música popular brasileira, Emicida tem se destacado por suas letras poéticas e politizadas.
“Boa Esperança”, do álbum “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa…” (2015), é uma canção que aborda temas como racismo, repressão, identidade e revolta. O clipe é digno de uma obra-prima cinematográfica, com forte crítica ao racismo estrutural e à desigualdade social.
“E os camburão o que são?
Negreiros a retraficar
Favela ainda é senzala, Jão
Bomba relógio prestes a estourar”
“Um Bom Lugar” – Sabotage
Mauro Mateus dos Santos, mais conhecido como Sabotage, é uma lenda do rap brasileiro. Mesmo com uma carreira interrompida tragicamente, Sabotage deixou um legado enorme com suas letras que retratam a vida na periferia e as dificuldades enfrentadas pela população pobre.
“Um Bom Lugar”, do álbum “Rap é Compromisso!” (2001), é um clássico do rap nacional. A música fala sobre a busca por um lugar melhor, sobre manter o respeito e a dignidade, mesmo diante de tantas adversidades.
“Um bom lugar
Se constrói com humildade, é bom lembrar
Aqui é o mano Sabotage
Vou seguir sem pilantragem, vou honrar, provar
No Brooklyn, ‘to sempre ali
Pois vou seguir, com Deus enfim”
“Soldado do Morro” – MV Bill
MV Bill é um dos rappers mais politizados do Brasil. Suas letras são um verdadeiro manifesto de protesto contra as injustiças sociais e a violência.
“Soldado do Morro”, do álbum “Traficando Informação” (1999), é uma das músicas mais impactantes de sua carreira. A canção aborda a violência nas favelas e a falta de perspectivas para os jovens, refletindo a dura realidade vivida nas comunidades.
“Seria diferente se eu fosse mauricinho
Criado a sustagem e leite ninho
Colégio particular depois faculdade
Não é essa minha realidade
Sou caboquinho comum com sangue no olho
Com ódio na veia soldado do morro”
“Bixa Preta” – Linn da Quebrada
Linn da Quebrada é uma artista multifacetada que usa sua música para discutir questões de gênero, raça e classe social. Sua arte é um grito de resistência e autoafirmação.
“Bixa Preta”, do álbum “Pajubá” (2017), é uma canção poderosa que aborda a marginalização e a resistência da comunidade LGBTQIAPN+. A música é um manifesto contra a opressão e um hino de orgulho.
“Bicha estranha louca, preta, da favela
Quando ela tá passando
Todos riem da cara dela mas, se liga macho
Presta muita atenção
Senta e observa a tua destruição”
Preta da Quebrada – Flora Matos
Flora Matos é uma das vozes femininas mais fortes do rap brasileiro. Com letras poderosas e uma presença de palco marcante, ela aborda temas como feminismo, empoderamento e desigualdade social.
“Preta da Quebrada”, do álbum “Eletrocardiograma” (2017), destaca a luta das mulheres negras na sociedade. A música é um grito de resistência e empoderamento, mostrando a força e a resiliência das mulheres da periferia.
“Não fique em casa, parada
Olha pra sua cara
Hora de se lembrar que só seu amor próprio sara
(Não é maravilhoso?)”
“Boca de Lobo” – Criolo
Kleber Cavalcante Gomes, mais conhecido como Criolo, é um dos artistas mais versáteis e respeitados do cenário musical brasileiro. Com uma carreira que transita entre o rap, o samba e a MPB, Criolo é conhecido por suas letras profundas e críticas.
Outra canção marcante de Criolo, “Boca de Lobo” é uma crítica incisiva à corrupção, violência e desigualdade no Brasil. A letra aborda a realidade brutal enfrentada pela população das periferias, destacando as falhas do sistema político e social.
“Aonde a pele preta possa incomodar
Um litro de Pinho Sol pra um preto rodar
Pegar tuberculose na cadeia faz chorar
Aqui a lei dá exemplo: mais um preto pra matar”
“Ladrão” – Djonga
Impossível não colocar, Djonga é um dos rappers mais proeminentes da nova geração, nesta lista. Com uma lírica afiada e politizada, ele aborda temas como racismo, desigualdade e resistência. “Ladrão”, do álbum homônimo (2019), é um poderoso retrato sobre o racismo no showbusiness brasileiro, essencialmente branco. Djonga usa suas rimas para desafiar o status quo e inspirar a luta por direitos e justiça.
“Eu que só queria uma bicicleta mano,
Hoje posso comprar a vista o carro ano.
Dei Voadora na cultura branca, corda no pescoço,
Eles passam e eu rasgo o pano!
“Negão Negra” – Flávio Renegado e Gabriel Moura
“Negão Negra” é uma colaboração entre Flávio Renegado e Gabriel Moura que celebra a identidade e resistência da população negra. Lançada em 2020 na voz da diva Elza Soares, a canção é um manifesto contra o racismo e a violência, promovendo o orgulho e a valorização da cultura negra.
“Nunca foi fácil nunca será para povo preto do preconceito se libertar
Sempre foi luta sempre foi porrada contra o racismo estrutural barra pesada”
O rap de protesto no Brasil é mais do que um gênero musical; é uma forma de resistência e luta por justiça social. Essas canções são exemplos poderosos de como o rap pode ser um grito de resistência e um chamado à ação. Então, que tal ouvir essas músicas que têm tanto a dizer? Afinal, o rap é mais do que música; é movimento, é vida e resistência.
Ler mais sobre esse tema: